terça-feira, 20 de outubro de 2009

Sob O Céu de Mouros


Outra vez a dar-me ludíbrio
Té que minha soledade olvide
Deixa-te andar em arroio sob o aljôfar
Se assim é que tu queres mitigar tua dor

Outra vez meu coração faceto
Porfia increpar a flama desta paixão
Sem preocupar-se com a dilação tua
À cada dia mais florente

Outra vez a uniformar sentidos
A sulca sucinto pelas águas do Capibaribe
E assim me despido de ti com o coração eclipsado de saudades
Tu segues pela fria ufano sob a luz de um corisco

Outra vez cobrada com o coração patente
A ungir minh’alma incalta
A esperar por ti, Adônis
A lembrar do vau do Tejo

Outra vez não sei parte tua
Presa à galhardia desta brisa doce
Té lograr teus santos beijos
A esperar como Fênix com o desejo de Ícaro

Outra vez a esperar tua galeota empavesada
Do alto de uma penha apresta contigo
A tua espera já presumida e airosa
E eu cá de cima inda a dar a deus a ti

Outra vez repleta de pensão
Sem o mínimo contento ou desafogo
E este fado escreve-se porfia
Dentro desta oficina que é a vida

Outra vez sem alento
Com o coração fero
E ainda assim compassivo e ditoso
Querendo eu despenhar-me desta fraga para a ti encontrar

Outra vez a corroboar que eu te amo
A te lisonjear e ostentar meus sentimentos
E então causar-te frágua com o toque dos lábios meus
E assim transladar teu feitio zorro

Outra vez apetecer teu corpo forro
Cometer rapazia de pecado
E assim protesto desaferrar teu zênite
Animoso eres a enfrentar tropel à ser ditoso ao lado meu

Outra vez a desaterrar sonhos
A amainar tormentas
Navegando em baixel se preciso for
Liberalmente com nacarada face te soçobrar

Outra vez sôbolas águas reputadas deste rio
Bramar-me e assim embravecer
A destruir penedo e obelisco
Se assim o meu amor for ludibriado

Outra vez a olhar sob o céu de Mouros
Me despido das brumas
A carregar esta tristeza peca para longe daqui
E assim deixaire imenso amor unindo céus e mares
- Rosenrot -

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